As obras de construção da Itaipu Binacional foram iniciadas em 1975, com a escavação do canal de desvio do Rio Paraná - que liga o Brasil e o Paraguai. Para entender a dimensão dessa obra, e porque muitos brasileiros deixaram seus estados para trabalhar lá, talvez seja necessário algumas comparações. O volume total de concreto utilizado na construção de Itaipu seria suficiente para construir 210 estádios do tamanho do Maracanã. A quantidade de ferro e aço utilizada permitiria construir 380 Torres Eiffel. E para que o projeto saísse do papel, 40 mil trabalhadores chegaram a atuar juntos na obra que é considerada uma das sete maravilhas da engenharia civil no mundo moderno, ao lado, por exemplo, do Eurotúnel (FRA/ING), da Golden Gate (EUA) e do Canal do Panamá.

Ewton Cleube Sartori foi um desses trabalhadores que hoje, aposentado há 22 anos, tem uma bela história para contar. Natural de São Carlos, ele trabalhava na Cesp, em Ilha Solteira, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, e depois foi para Água Ver-melha, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, quando foi convidado a trabalhar na Itaipu. “Foi meu chefe na Cesp, que já estava na Itaipu, que me convidou. Imagina se eu não aceitaria trabalhar na maior obra do mundo, para ganhar quase o dobro? Peguei a família e vim”, diz Ewton, que até hoje mora em Foz do Iguaçu. “Na época meu filho caçula estava com um ano, agora tem quase 42”.

A família de Ewton cresceu desde então. Além da esposa e dos três filhos, todos já casados, cinco netos fazem parte do clã Sartori.

TRABALHO COM AMOR

A vida em Foz do Iguaçu teve início em 1975, quando Ewton começou a trabalhar na Usina como Auxiliar Técnico de Terrapla-nagem, mesmo cargo que exercia na Cesp, onde trabalhou de 1969 a 1975. “Quando fui para lá ainda era CAEEB, depois passei para Itaipu, meu crachá era número 51, já era uma boa ideia”, brinca Ewton, que atuava no setor de terra e rocha, e embora sua equipe fosse a de terra, “acabávamos entendendo de tudo”, diz ele.

E como tinha colegas que também vieram da Cesp para a Itaipu, não demorou para que o apelido de Ewton, Cebolinha, se espalhasse rapidamente. “Ganhei esse apelido ainda na Cesp e ficou, e o pessoal aqui também só me conhece por Cebolinha”, comenta.

Bem humorado e dedicado no cumprimento de sua função, Ewton trabalhou 19 anos em Itaipu. “Exceto em caso de doença, nesses anos só tive duas faltas, era cri-cri, fazia tudo bem feito, como estava no projeto, e sempre trabalhei com amor”, diz ele, que nunca participou de uma greve. “Porque eu ia fazer greve se estava bem? Ganhava para viver, minha mulher leciona-va no Colégio Anglo Americano, onde meus filhos estudaram; contava com um bom plano de saúde, não tinha e não tenho do que reclamar”.

BOM CONSELHO
Realizado em sua vida pessoal e profissional, Ewton deixa um conselho para quem está começando a vida: ser honesto e, seja qual for o serviço, faço-o como o chefe determinou, por respeito ao superior, pois se fosse para fazer de outra forma, teria mais estudo e seria o chefe. Seguindo essa conduta profissional, Ewton viu passar os anos na Usina, e hoje, aos 74 anos, goza de boa saúde. “Estou um coco, não ralado. Essa expressão nordestina quer dizer que estou forte, nunca tive uma dor de cabeça, ou tontura”, completa.

Mas apesar de estar tudo certo em sua vida, Ewton diz que ainda falta fazer uma coisa na Itaipu: plantar uma árvore. “Sem-pre quis fazer isso e nunca tive coragem
de pedir”, diz ele. Fica o recado, pois ainda está em tempo.

Filhos do Ewton, quando adolescentes

FIBRA

Trabalhar na Itaipu era o emprego almejado por Ewton, da mesma que ser aposentado pela Fibra, da qual ele é asso-ciado desde 1988. “Quando a Fundação foi criada eu já me inscrevi. Como meu chefe falou que era um bom negócio, eu entrei na hora e estou contente até hoje”, diz ele.