Iracema Genecco, 67 anos, acumulava de dois a três empregos no jorna-lismo para criar a filha. Vera Lúcia Andrade, 69 anos, Flora Contin, 65 anos, revezaram os cuidados com a família e as atribulações do trabalho.
O que estas três mulheres têm em comum? O prazer de adquirir, na aposentadoria, experiências e realizar os sonhos de viagens que haviam adiado.
Iracema se tornou mochileira aos 60 anos, viajando pela Europa. Vera e Flora compartilham do mesmo sonho, e em suas bagagens têm mais do que roupas e itens básicos, têm vontade de vivenciar o presente da melhor forma. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) constatou que os idosos correspondiam a 29,6 milhões de brasileiros em 2016. Em 1991, a população brasileira acima dos 60 anos contabilizava 10,7 milhões de pessoas.
O número mais do que dobrou em 25 anos. Elas são a maioria, somando 16,6 milhões. Já os homens acima de 60 anos são 13 milhões.
DESBRAVADORA
Iracema diz que muitos idosos ainda estão temerosos em viajar e dizem ser impossível realizar isso após os 60 anos. “Se a pessoa tem boa saúde, gosta de caminhar bastante e tem forças para le-var a mala, o resto é lucro. É importante fazer um check-up antes, com médicos e dentistas, contratar um seguro de viagem pelo período em que permanecer fora e levar medicação necessária. Tomando esses cuidados, fica tudo bem”.
Quando jovem, Iracema sonhava em viajar pelo mundo, mas o trabalho e os cuidados com a filha não permitiam. O tempo passou e a filha cresceu. Hoje ela
mora em Londres e a paixão de viajar pelo mundo ressurgiu. Em uma visita à filha, ela aproveitou para conhecer outras regiões da Europa. Já chegou a passar meses seguidos viajando, e agora está na Espanha há nove meses. Iracema utiliza a aposentadoria e também trabalha em troca de hospedagem e alimentação. “Não compro nada além do necessário. Ando de transporte público ou de carona. Só compro passagens aéreas se estiverem em promoção”, comenta. Para ela, os idiomas também não são barreiras: o Google Translator é seu grande aliado, e comenta ainda, que como viajante solitária, o medo é inevitável, mas ele também avisa sobre os momentos que podem ser perigosos.
AVENTUREIRA
Aos 69 anos, Vera Lúcia ouviu do filho que queria fazer mochilão pela Europa. Ela decidiu acompanhá-lo. Já o filho, Helder Araújo, analista de marketing, não acreditou: “Eu falei que iríamos ficar em quartos compartilha-dos em hostels, que o orçamento era de baixo custo, que não era todos os dias que teríamos três refeições e que teríamos de usar transporte público. Mesmo com tudo isso, ela respondeu: ótimo”.
Vera, casada há 40 anos, trabalhava com análises químicas, e sempre se dedicou à família e ao trabalho. Viagens? Só para visitar familiares em Goiás. No entanto, a história mudou e ela e o filho percorreram por países como Itália, Eslovênia, Croácia e Áustria. “Várias pessoas com minha idade não têm metade do pique dela. Ela foi incrível”, conta o filho admirado.
SONHADORA